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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ALGUMAS ENTRADAS DE ESPÉCIES "ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO BRASILEIRAS"


                                                 
ABELHAS SEM FERRÃO: CENTENAS DE ESPÉCIES PARA
POLINIZAÇÃO, PRODUÇÃO DE MEL, LAZER E EDUCAÇÃO
Wladimir Jimenez Alonso
Laboratório de Abelhas - PNN - Departamento de Ecologia IB-USP
e-mail: wja@altavista.net
Apesar de ter sido trazida da Europa somente no século passado e
da África neste século, conhecemos a abelha  Apis (chamada de
africanizada) muito bem. Seu mel e outros produtos  são amplamente
comercializados em todo o mundo. Suas picadas são famosas. Muitos
aspectos da sua biologia foram minuciosamente estudados - até
Aristóteles já escreveu sobre elas.
O mesmo não ocorre com as abelhas sem ferrão: como  são quase
uma exclusividade dos trópicos, não chegaram ao conhecimento
ocidental até que os naturalistas se aventuraram nas expedições
ultramarinas nos últimos séculos. No entanto, já nos códices (livros)
maias pré-colombianos se explicava como criar espécies de abelhas sem
ferrão que tinham importância econômica ou religiosa (fig. 1). Também
os índios kayapó revelaram um conhecimento assombroso da anatomia
e comportamento das espécies das quais ainda aproveitam o mel, o
pólen e as larvas para alimentação; o cerume e as resinas para
confecção de artefatos (inclusive flechas), e misturas de abelhas e
partes do ninho na medicina - além de mitologicamente se espelharem
nestes animais para entender a origem e organização da tribo.
Para entender as abelhas sem ferrão, falemos um pouco das
abelhas em geral. Todas provém evolutivamente de um grupo de vespas
que deixou de fornecer presas (como aranhas e insetos) a seus filhotes,
substituindo a necessidade de proteína para o desenvolvimento das
larvas com o pólen coletado das flores. Contrário à imagem popular, das
20.000 espécies de abelhas atuais, a maioria é solitária: não tem
colônias, nem rainhas, nem operárias. Só umas poucas vivem em
complexas sociedades com requintados sistemas de comunicação e
cooperação. E dentro destas, somente se multiplicam em enxames o
grupo das abelhas  Apis (que comentávamos no início), e o grupo que
estamos tratando agora, cujos representantes mais populares são a
jataí, uruçu, tiúba, jandaíra, borá, mandaçaia entre outras.
O fato mais marcante destas abelhas é justamente que a espécie
antepassada que deu origem a este grupo perdeu o ferrão. Isto
provavelmente está relacionado com o fato de a colônia não ficar
exposta quando as abelhas enxameiam (elas se dividem e mudam de
casa "pouco a pouco") e a construção de ninhos ser  geralmente em
lugares bem protegidos. Com efeito, dificilmente veremos as abelhas sem ferrão se caminharmos numa floresta desatentos  e, claro, nunca
tropeçaremos com um enxame delas.
Seus ninhos são um espetáculo a parte de arquitetura e organização
(fig. 2). Geralmente se alojam em cavidades de tamanhos adequados,
às quais elas acabam de acondicionar com barro, cera e resina. Estas
cavidades podem ser ocos de velhas árvores, cipós ou bambus, em
ninhos (abandonados ou não) de aves, cupins e formigas e até tijolos
ocos, frestas nas paredes, cabaças, panelas, etc. Os ninhos mais fáceis
de se ver são os das espécies que constróem sobre as árvores e que
podem chegar a ter cerca de 180.000 indivíduos, como o da famosa
irapuá. A entrada, também muito variável conforme a espécie: desde
enormes "bocas de sapo", feitas de barro, até "canudos" de cera (que
são fechados a noite), nos conduz a um mundo fantástico, construído
basicamente de uma mistura da cera secretada no dorso das abelhas e
resina coletada de plantas (o própolis). Esta combinação, chamada de
cerume, não é casual, pois unem-se às características de maleabilidade
e isolamento térmico da cera com o poder antibiótico das resinas. Este
material é manipulado incessantemente por operárias para a construção
de colunas, potes de pólen e mel, lâminas de isolamento térmico e as
células de cria.
Aliás, merece uma menção especial o processo de aprovisionamento
e oviposição de cada célula, pois para que possa construir estas células
de cria, aprovisioná-las com alimento, a rainha, depois de botar o ovo e
finalmente ocorrer o fechamento da célula, existe um processo de
sincronização, ritualização e interação que não é encontrado em outros
animais (nem em outras abelhas).
A organização social destas abelhas apresenta assim muitas
peculiaridades que são desafios científicos. Por exemplo, o apicultor
comum estranhará o fato destas colônias estarem sempre produzindo
rainhas que, na maioria das vezes, serão simplesmente mortas pelas
operárias. As equipes científicas brasileiras e de  diversos países têm
contribuído muito e ainda vêm trabalhando para o esclarecimento destas
questões. Mas também existem aspectos das abelhas sem ferrão que
interessam, não só à ciência, mas à economia e à sociedade em geral, e
que atualmente não são suficientemente percebidos e aproveitados.
1) Muitas espécies produzem um mel de excelente qualidade (fig.3)
- incluindo-se alguns dos quais a medicina popular  atribui qualidades
terapêuticas. Existem amplas possibilidades econômicas abertas neste
campo, como ilustra o fato de os japoneses já terem oferecido pelo mel
de jataí 5 vezes o preço do mel de  Apis. Queriam 5 toneladas, não
acharam nem 5 quilos!
2) A criação de abelhas sem ferrão é muito fácil até na cidade. A
docilidade da maioria das espécies e seu comportamento fascinante as tornam um excelente material lúdico para os adultos e um instrumento
de educação ambiental para as crianças;
3) Seu papel-chave nos ecossistemas dificilmente é  apreciado na
sua plenitude. As abelhas campeiras, ao coletar o néctar e o pólen,
visitam quase todo tipo de arbustos e árvores com flores, servindo assim
de agentes polinizadores: verdadeiros "cupidos" alados das matas e
plantações. É significativo que certas espécies de abelhas sem ferrão já
sejam criadas pelos próprios agricultores para polinizar seus cultivos.
Esta prática - comum com Apis e mamangavas - está sendo aplicada até
a certos cultivos de estufa (como a nossa irai que está sendo usada no
Japão na polinização do morango).
Mesmo assim, com toda a importância que este grupo possui para o
homem, surpreende que em estudos atuais sobre diversidade de abelhas
na natureza, ainda novas espécies sejam descritas. Se isto produz uma
grande satisfação científica, outro dado é motivo de sincera
preocupação: a destruição acelerada dos ecossistemas naturais está
condenando várias espécies a uma existência limitada às gavetas dos
museus (ou nem isso). Mesmo onde ainda há matas em bom estado - o
único ambiente possível para muitas espécies - é comum a destruição
dos ninhos para a coleta predatória do mel. As espécies que conseguem
sobreviver em ambientes modificados pelo homem também enfrentam
sérios problemas: é fácil imaginar qual é o impacto nos polinizadores da
própria lavoura (e na dos vizinhos) com uso irresponsável de inseticidas.
Neste último caso o efeito econômico não se faz esperar, pois com
menos polinizadores a produção agrícola tende a cair.
Podemos supor que o mundo era bem diferente quando  os
dinossauros ainda dominavam a paisagem e os antepassados do homem
eram uns pequenos insetívoros que habitavam a noite da floresta. Mas
nessa época, há 80 milhões de anos, as abelhas sem ferrão já estavam
lá e cumpriam seu papel de polinizadores as visitar as flores que
recentemente tinham feito sua aparição na paisagem. Para que
estes seres tão benéficos para os ecossistemas tropicais e para o próprio
homem continuem existindo, temos que tomar medidas, que aliás são as
que todos já conhecemos, e que não ajudam só às abelhas, mas a
muitas outras espécies, inclusive ao homem. Essas medidas são a
proteção dos ecossistemas, o uso sustentado dos recursos naturais, o
respeito às leis ambientais vigentes e a implementação da educação
ambiental desde a escola. Se considerarmos que no território que o
nosso país ocupa se encontra nada menos que metade das 400 espécies
de abelhas sem ferrão, percebemos que também, neste caso, além de
privilegiados donos de um enorme potencial natural  a ser explorado,
também somos depositários de uma responsabilidade extraordinária
frente à presente e às futuras gerações. Para saber mais:
Abelhas Indígenas sem Ferrão Jataí. Fabichak. Editora Nobel.
53 p.
Abelha Uruçu: Biologia, Manejo e Conservação. Kerr e outros.
Fundação Acangau.
143p. Fone: (034) 232-3436
A Mandaçaia: Biologia de Abelhas, Manejo e Multiplicação
Artificial de Colônias
de  Melipona quadrifasciata. Aidar. Soc. Bras. de Genética. 103p.
Fone: (016)
621-8540
Biologia das Abelhas sem Ferrão. Velthuis (org.) IB-USP e Univ.
Utrecht. 33p. - Fone:
(011) 818-7533
Criação Racional de Abelhas Jataí. Godói. Ícone Editora. 83p.
Fone: (081) 231-5213
Vida e Criação de Abelhas Indígenas Sem Ferrão. NogueiraNeto. Ed. Nogueirapis.
446p. Fone: (011) 818-7533
Vídeo Meliponicultura. Huertas, Kerr e outros. CPT 55 minutos.
Fone: (031) 891-4396
Na Internet: http://eco.ib.usp.br/beelab/link.htm

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